sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Considerações sobre uma imprensa ‘marrom’


Imagem sequestrada da internet. É uma crítica a mim mesma, que desejaria ser "virgem" no assunto dos erros de português, mas infelizmente, também sou vítima deles.

Quando as coisas não estão assim tão bacanas, costumamos dizer – por essas plagas papa-jerimum - que o negócio está “marrom”. De mais ou menos. Ou seja, corruptela de “marromeno”, maneira bem potiguar de se expressar, de encurtar as palavras. Lembro-me quando o professor de português Sílvio (ainda na ativa, pelos cursinhos de Natal) disse em sala de aula que o “bora” veio de vamos em boa hora, depois vambora, bora e, por fim, o sujeito dá um solavanco no pescoço à guisa de chamar o próximo para juntos “pegarem o beco”.
Enfim, caríssimos leitores, não estou aqui para falar sobre o vocabulário potiguarês. Estou para falar da nossa imprensa. Que não é “marrom”, como a inglesa (porque somos medrosos e não falamos mal de ninguém), mas é “marrom” de mais ou menos. Não apenas quanto ao conteúdo, pouco crítico, na minha opinião, mas quanto à forma.
Imagine que outro dia eu vi publicado na capa de um dos maiores jornais do Estado, “o melhor jornal para o melhor leitor”, conforme se auto-intitula a famosa Tribuna do Norte – que um “multirão” ia ser realizado etc e tal. Não foi a primeira vez que eu me deparo com um erro tão absurdo bem na capa do citado veículo. Pensei que poderia se tratar de uma verdadeira “multidão” envolvida no mutirão em questão. Daí fizeram o trocadilho. Vá saber.
Noutro dia, no novíssimo Diário de Natal, com seu projeto em que prioriza transmitir a informação por meio de pequenos textos, leio sobressaltada que o ex-presidente da Capitania das Artes César Revorêdo estava se sentindo muito “cançado”, por isso pediu para sair do cargo. E esse criterioso texto estava publicado na prestigiada página 3, de política. Do mesmo jornal, uma repórter – eu estava presente ao evento, dias desses, e testemunhei – confundiu Coletivo Leila Diniz (ong que defende os direitos da mulher) com “coletiva com a Leila Diniz”. Onde seria a reunião, num centro espírita?
Quando eu era adolescente, recebi um bilhetinho de uma amiga em sala de aula (na época, não havia torpedos) e ela se dizia “anciosa”, por isso não havia feito alguma coisa importante. Já naquela época, eu costumava ser chata para essas coisas de ortografia. Não que eu seja crânio no assunto. Ao escrever berinjela, por exemplo, ou manjericão, às vezes penso ser com “g”. Normal errar a nossa língua portuguesa, tão complicada, o problema é que a imprensa local demonstra muita falta de apuro nos seus textos finais.
Hoje, no Nominuto, na seção cultural, fiquei uns segundos sem entender a verdadeira intenção do autor de um dos textos postados. Sim, porque de todos os equívocos de ortografia que eu já vi na minha vida, jamais havia percebido “intenção” com “s” em vez de “ç”. O título da matéria é assim: “UFRN promove evento de quadrinhos e história regional”. E o início: “Intensão é divulgar a produção quadrinística no estado”.
Vou parando por aqui, mas ao ler a notícia de que o “novo jornal” está preparando o prelo, fico pensando que ao agradar uns e outros não, como deseja o professor Cassiano Arruda, imagino que ele queira desagradar pelo conteúdo, se for o caso, jamais pela forma.
Ah, hoje Mário Ivo, tão atento e realmente criterioso, deu um aviso às assessorias de imprensa: "itinerante não tem n (intinerante)", sobre a caravana Centro Cultural Banco do Brasil Itinerante. Gente que escreve bem, como ele, e é tão atento e crítico, vai sair do jornal JH 1ª Edição. Dá para entender a lógica dos administradores de jornal? Vai ver, ele será substituido por alguém que escreve "ancioso" ou "cançado", mas vai dar mais "ibope".

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