sábado, 11 de janeiro de 2014

Emoções sem limite x equilíbrio

Saber esperar o momento certo para cada coisa na vida da gente não é tarefa das mais fáceis. A ansiedade toma conta de mim e faz algum tempo que eu descobri que padeço desse mal. As consequências desses revolução de sentimentos faz brotar em meu organismo os sintomas de uma doença auto-imune, chamada Doença de Behçet. Sexta-feira foi o dia D: o olho inflamou e estou à base de corticóide.
Alegria, tristeza, desilusão, otimismo, cansaço: sentimos tudo ao mesmo tempo
Há algum tempo, eu percebi que ter a vida em equilíbrio também tem a ver com o lado emocional, desde que escrevi a reportagem para a revista Glam, sobre as mulheres que alcançaram a plenitude aos quarentinha, o que me despertou a encarar esse desafio de também chegar linda, loira e bem resolvida aos 40 anos de idade. Não adianta a mulher estar magra, bem cuidada, com a pele fresca e juvenil, se por acaso ainda se sente insegura quanto ao trabalho, à condição de mãe, ao romance etc. Temos de nos cuidar por completo. Mas não é fácil controlar as emoções. Quando há um descontrole, seja por qual motivo for, temos a tendência a nos classificar como adolescentes. Se for relacionado a paixões, aí é que o coração acelerado nos faz lembrar dos tempos de juventude, quando até um beijinho no rosto nos fazia levitar. E se nos sentimos assim, a auto-crítica vem com tudo, tipo: "ei, mulher, você não é mais nenhuma menina não".
Mais ou menos significa que o controle das emoções tem a ver com maturidade. É e não é. Afinal, não devemos estar secos diante de tudo o que nos acontece. Por que não chorar vendo filme, ou relembrando as aventuras com as amigas, ou se deparando com as peripécias das crianças, ou ouvindo uma música que lembra o amor? O problema é quando há uma mistura tão intensa de emoções e a gente começa a não render mais no trabalho, ou passa a ter desconfiança do parceiro/parceira, quando o trabalho passa a não ter mais sentido, quando a vida doméstica está um caos, desorganizada.  Mas, é fácil? Claro que não. Dificílimo.
As máscaras do teatro: retrato de nossa existência
E se não nos controlamos, não rendemos direito em nenhum dos aspectos da vida. A tristeza se torna angústia (aquele aperto no coração) e deixa de ser um aspecto mental para atingir o físico. Quando estou ansiosa, eu nem quero comer, fico impotente, agoniada. E passei a perceber isso quando eu trabalhava na Tribuna do Norte e acumulava duas funções. Às segundas, eu fechava sozinha um caderno de arquitetura e design, o Estampa, e já acordava me sentindo mal. Péssima. Passei muito tempo para classificar aquilo como ansiedade. E assim, sempre na iminência de um trabalho por concluir, eu me sentia daquele jeito. Demorei para me entender e me controlar, respirando lentamente e repetindo para mim mesma que eu daria conta. Coloquei na minha cabeça que Deus, o maior de todos os santos, é o padroeiro do jornalismo e que sempre dá tudo certo no final. E tem dado certo desse jeito.  
Mas, ainda na adolescência, nos lances de paquera e namoro, eu tinha às vezes uma sensação inexplicável, uma explosão de sensações, uma coisa boa, misturada a uma coisa ruim (o aperto, a vontade de estar junto o tempo todo, a expectativa quanto à correspondência que não chega, o atraso, a espera), tudo isso é explicado por Roland Barthes em seu livro Fragmentos de um Discurso Amoroso. Eu, mesmo beirando os 40 anos, ainda sinto tudo isso quando eu estou gostando de alguém. Quer dizer que certas coisas não mudam, mesmo com o passar da idade, e não devemos nos culpar, mas nos conhecer e nos curtir. Eu sei que gosto muito de uma pessoa quando sinto uma emoção incontida dentro de mim quanto eu disco o número ou mando mensagem, e muito mais quando eu recebo. Mesmo que o relacionamento já não esteja mais no começo. No meu atual relacionamento, eu percebo que devo conter a ansiedade, por se tratar de uma pessoa que ama sua liberdade e respeita a minha, e me dá chão, isto é, não preciso disfarçar minha intensidade. Se eu tiver com vontade de escrever ou ligar, tudo bem, não serei interpretada como invasiva (já conversamos sobre isso, ufa!). E eu não cobro intensidade de ninguém, porque cada pessoa é de uma forma. Gosto apenas quando respeitam o meu jeito de ser. Espontâneo.
 
Amizades verdadeiras nos ajudam a controlar as emoções
Este ano, no dia 6 de janeiro, amanheci o dia ansiosíssima. Um misto de preocupação com trabalho, com dinheiro para sobrevivência, com coisas de minha filha que ainda tenho que comprar (materiais, mochila, tênis). O dinheiro na conta rareando, a minha chefe me mandando mensagens o tempo todo me cobrando coisas num período em que o ano nem bem começou. Foi um Deus nos acuda. Eu estava em Baía Formosa, na minha casa de praia, e me organizava para retomar a vida. No dia seguinte, daria expediente normal e pensava que teria de arranjar tempo para tudo: para fazer extras, para atividade física, para ir ao médico, para levar Alice ao dentista, e que em pouco tempo as aulas dela já vão começar e aí começa tudo de novo. Acordar cedo, café, almoço, lanche, supermercado. Foi difícil me acalmar. Por mais que eu estivesse numa ótima condição naquele momento, descansada, curtindo o verão, eu sabia que aquela situação não era o bastante para resolver tudo o que preciso, e que o ano seria comprido demais para mim (carnaval, copa do mundo, etc, tudo isso significa mais responsabilidade no meu emprego).
Então, quando eu cheguei em Natal, liguei para uma amiga e propus um almoço. Passei no restaurante e levei um filé à parmegiana para eu e ela almoçarmos com as filhas, em sua casa. Passamos o resto do dia jogando conversa fora. Foi ótimo, realmente me acalmei, e quando cheguei em casa, à noite, ainda tive coragem de organizar umas coisas antes de dormir. A noite foi tranquila. Estou expondo isso para dizer que amizades verdadeiras nos ajudam a controlar as emoções. Sair do face, do celular, da vida virtual e fazer visitas é uma excelente maneira de encontrar o equilíbrio às vezes perdido em meio a tantas responsabilidades.    

Quando se dá tempo ao tempo, as coisas vão tomando seu lugar. É o que está acontecendo comigo estes dias. A ansiedade serviu para fomentar ideias na minha cabeça. Tive uma ideia ótima e estou em parceria com uma amiga, com gosto de gás. Além disso, falei com outra amiga, uma colega jornalista, que estava precisando de extras e ela me indicou um frila. E para melhorar ainda mais, retomei a terapia. Fui ontem, na primeira sessão do ano, e a terapeuta me achou ótima, segura do meu talento profissional. Estou num período muito bom da minha vida, estou feliz, cultivando coisas boas, mas a terapia me ajuda a organizar melhor as ideias. Acho que é isso mesmo. Uma nova forma de olhar a vida. Em busca do equilíbrio, sempre. 

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